Natação, dança, karatê, inglês, ginástica rítmica, pintura, futebol, espanhol, vôlei, xadrez, aulas de reforço, além da escola e das lições de casa. E assim, dia após dia, tudo se repete.
Ufa! Não parece coisa demais para uma criança?
Por vezes, escutamos falas como: quero dar às minhas crianças tudo o que não tive; vou matriculá-las em diversos cursos, pois era meu sonho de infância e eu não tive essa oportunidade. Num primeiro momento parece uma ideia excelente preencher a agenda dos(as) pequenos(as) com diversas atividades extracurriculares, afinal, assim estarão sendo preparados(as) para o futuro. Será?
Não há nenhum mal em querer proporcionar às crianças experiências novas e construtivas, que lhes farão bem no agora e no futuro. Porém, existe uma questão bem delicada dentro desse assunto e que geralmente ignoramos: a sobrecarga infantil.
Reduzindo os compromissos e abrindo espaço para o brincar
Vivemos tempos em que muito se fala sobre desacelerar a vida adulta, focar no bem-estar e na saúde mental, mas esquecemos que isso vale, principalmente, para as infâncias. Acreditar que as crianças são vazias e não possuem suas próprias questões e preocupações, e por isso podem ter uma agenda recheada de afazeres diários, é esquecer que elas também são humanas.
Crianças ficam estressadas, irritadas, nervosas, mal-humoradas, ansiosas, frustradas, tristes e exaustas. Elas possuem um tempo diferente do dos adultos, precisam vivenciar a vida com mais calma, com tempo para brincar, imaginar, criar, elaborar, investigar, interagir, refletir, fazer, refazer, absorver e aprender. A pressa e os diversos compromissos são inimigos desses momentos. Por isso a ideia de produtividade não combina em nada com as infâncias.
Isso não significa que os(as) responsáveis não devam oportunizar atividades diferenciadas às crianças como esporte, aulas de artesanato e até um novo idioma, essas experiências são, sim, muito benéficas e auxiliam no desenvolvimento infantil. No entanto, é essencial considerar dois pontos: o equilíbrio e o sentido dessa prática para a criança.
Como deixar a criança participar da escolha das atividades
Se para você os cursos extras são muito importantes e a sua realidade pode proporcionar isso, convide sua criança para escolhê-los junto com você: dialogue, pergunte, escute com atenção o que ela tem a dizer, deixe que se sinta parte das decisões.
Caso elas já realizem alguma prática extracurricular, evite estimular a competitividade e a perfeição, em vez disso, valorize os esforços da criança, incentive-a e sempre acredite nas capacidades dela.
Crianças não precisam ser preparadas para o futuro, mas se desenvolver no agora. O mais importante é que sintam o momento presente, socializem com outras crianças e pessoas próximas, criem vínculos de afeto, brinquem na natureza e experimentem.
Dicas extras para desacelerar a rotina das crianças em cidades grandes
Passo 1: Coloque uma música! Indicamos Passarinhos (Emicida e Vanessa da Mata), mas, nas plataformas de áudio, você encontra diversas listas de músicas animadas para escutar com as crianças, como a Ser Criança é Natural.
Passo 2: Assista a este vídeo: O que queremos apresentar para as nossas crianças: o mundo das telas ou o mundo lá fora?
Passo 3: Observe ao redor e reflita sobre as possibilidades que podem ser exploradas com a sua criança.
Às vezes será um pequeno parque próximo à sua residência, um parquinho com poucos brinquedos, uma praça, uma singela área verde no condomínio ou o seu quintal. O que importa é a intenção de proporcionar às crianças momentos cotidianos em áreas externas.
No Instagram @reciclus.oficial, temos uma série de conteúdos sobre brincadeiras com os quatro elementos da natureza. Vale a pena conferir e se inspirar!
Além de tudo isso que mencionamos, o contato com a natureza e elementos naturais é também um meio de despertar a consciência ambiental já na infância. Falamos melhor sobre o assunto aqui: Construção da Educação Ambiental com as crianças
Nessa fase, são infinitas as primeiras vezes. Permitamos, então, que as crianças tenham tempo e espaço para brincar e descobrir a vida. A agenda cheia fica para a vida adulta.